Ushuaia: O Coveiro da Humanidade Está no Fim do Mundo?
- Luis Manuel Silva

- 18 de nov.
- 2 min de leitura

As fotografias são caixas de Pandora dos tempos modernos. Se abertas, em vez dos males, que nos afligem, libertam histórias de amor, felicidade, e a esperança que Pandora deixou aprisionada. Depois de alguns anos de esquecimento, fui obrigado a abrir a minha caixa de Pandora. Um rochedo no meio do Canal Beagle, coberto de leões marinhos e umas quantas aves, avivou-me a memória para uma viagem que fiz às Terras do Fim do Mundo, no Ushuaia, a sul da Argentina.

Aquela terra foi batizada por Fernão de Magalhães, quando lá chegou. Ao ver a espaços grandes fogueiras, com homens vestidos de pele de volta dela, e marcas de grandes patorras na neve. Os homens mais altos que os europeus e de pés grandes, passaram de patagãos e patagons e a Terra do Fogo passou a chamar-se Patagónia.
Quando aterrei em Ushuaia, o que mais me deslumbrou foram as cores puras do céu com tonalidades quentes e frias ao longo do dia. Amanheceres e anoiteceres com cores ricas e doiradas, em contraste com o branco dos gelos das montanhas abruptas e rochosas, de suspender a respiração. Ao longo do dia, as nuvens travavam batalhas céleres e perseguiam-se com velocidades vertiginosas. Na terra e na água, grandes abertas de raios luminosos nas nuvens fugidias avivavam as cores da vegetação.

Andar de barco no Canal Beagle, apesar de ser verão com pedaços de sol a romperem as nuvens, só era possível com um grosso casacão por cima de camadas de roupa protetora. Um gorro quente protegia a cabeça, cara e ouvidos. Foi no Beagle que passei ao lado da tal ilha rochosa, ancoradouro de leões marinhos. Se era agradável vê-los esponjaram-se na rocha dura, recoberta de guano, não era nada agradável respirar o ar em torno da colónia. Um pouco mais à frente, e a caminho do Pacífico, centenas, senão milhares de pinguins, descansavam de pé ou caminhavam desajeitadamente para as águas geladas.

O Preço da Cobiça e a Destruição Lenta
Infelizmente, os povos originais acabaram por desaparecer, ou por doença levada pelos brancos, ou simplesmente exterminados para cobiçar a terra primitiva, áspera e selvagem.
Grande parte das florestas foram abatidas, com cortes nas árvores, feitos acima do solo, à superfície da neve. Ainda hoje são visíveis pedaços de troncos de árvores com um e dois metros de altura, e mais de cem anos. Os ventos e as temperaturas baixas não deixam a fauna microscópica prosperar em ambientes tão hostis. Os troncos das árvores são testemunhas silenciosas da gula dos países ricos.
O Verdadeiro Coveiro da Humanidade
No sul, devido ao clima agreste, aos processos de corte e transporte, a destruição das matas foi difícil e lenta. Um pouco mais acima, a norte dos países da América do Sul, o clima, os buldózeres, os grandes meios de transporte rodoviários e ferroviários, a plantação de milhares de hectares de produtos pouco amigos do ambiente, está a destruir metodicamente as florestas do Amazonas.
Há quem lhe chame o pulmão verde da humanidade. Não será, antes, o coveiro da humanidade?



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