
UM COMBOIO DE VIDAS SUSPENSAS
Um grupo de militares mobilizados para Angola vai conversando entre si no interior de um comboio.
No decurso da viagem, com momentos de introspeção e reflexão, os diálogos refletem os medos e o receio de não chegarem ao fim da comissão de dois anos.
Sob o ponto de vista dos jovens, fala-se da guerra colonial, da situação do país, da sangria dos homens enviados para a guerra, das mulheres, namoradas e madrinhas de guerra, do trajeto militar, da descolonização europeia e suas implicações na realidade portuguesa.

MADALENA
Madalena, mulher madura, bonita e sensual, confiante e independente, tem uma vida bastante ativa na gestão dos negócios de uma multinacional. Apesar de casada, vive separada do marido há uns anos. Por comum acordo, decidiram partilhar o crescimento e a educação da filha semana sim, semana não.
As suas origens remontam à Idade Média e desde sempre estava habituada a ouvir falar que os casamentos entre famílias eram negociados e cumpridos: jamais desfeitos. A última representante de uma nobreza desagregada dedicava-se ao amor da filha.
Neste ambiente secular de amores e desamores, liberdade e independência, caldeado pelos valores da velha nobreza, sem ser libertina, ia mantendo uma ou outra relação ocasional. No supermercado, local mais improvável para o romance, conhece António.
Ao contrário das outras aventuras, ambos concordam com uma relação aberta e descomprometida. Só que...

CARTAS
No rio selvagem e turbulento de dois anos de guerra, fluíram medos, saudades e rotinas mortais.
As namoradas e madrinhas de guerra enviaram torrentes de palavras secretas, em cartas seladas com beijos, para adoçar peitos agitados.
No interior deste rio de águas antigas, sem métrica, rima e estrofes regulares, desliza um barco carregado de graças para elas.
Noite após noite, deixava que a bic
se animasse a fazer o seu caminho
até se sentir esgotada de tanto andar.
Feliz, nunca se cansava!

O FUTURO PÕE-SE AO PÔR DO SOL
Um grupo de jovens militares a caminho de Angola, fechados num avião, desconhecem as realidades do país e África. Habituados a verem mortos e estropiados na família, amigos e vizinhos, interrogam-se sobre o futuro.
Quando desembarcam em Luanda, encontram uma cidade fortemente militarizada, com muita cor, alegria, juventude, mulheres vistosas e bonitas.
Enquanto Lisboa era uma cidade fechada, cercada pelo medo, deserta depois das dez horas da noite; Luanda, cidade de luz, néon, intensa vida diurna e noturna, era um espaço de liberdade estonteante para quem acabava de chegar da Metrópole.
Durante os dias de espera e fragilidades, esquecem os medos, floresce um romance avassalador.