UM SINAL DE DESCULPA E FRAQUEZA
- Luis Manuel Silva

- 16 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

Passados mais de dois meses da tomada de posse do governo AD, é tempo para tecer algumas considerações sobre governos e políticas em Portugal. Que grande parte dos políticos não tem conhecimentos técnicos e capacidades de gestão para tomar conta de pastas ministeriais, altamente técnicas e complexas, sei-o desde sempre. Também sei que muitos deles fazem carreira política com um único objetivo: chegar ao governo para, depois de alguns favores prestados, saltarem da governação para a actividade privada como administradores ou CEOs — alguns nem formação têm, os mais envergonhados compraram-na. As denúncias, ao sabor dos interesses partidários e mesquinhos, na comunicação social e justiça assim o comprovam. Muitos mais conseguem passar pelos pingos da chuva sem que sejam falados; outros são vítimas da calúnia e difamação porque ao arrepio das regras, ou por desconhecimento delas, procuraram fazer o melhor que sabiam. Este é o problema da nossa democracia que ainda não está consolidada. Para o provar, temos o CHEGA que tem aproveitado da melhor maneira a ineficácia dos nossos políticos e políticas.
É justo dizer que por todos os governos, e a par de uns quantos videirinhos, foram passando homens e mulheres íntegros. Imbuídos de um alto sentido do dever e servir, procuraram fazer o melhor que sabiam, rodearam-se de homens competentes, técnicos e conhecedores, para fazer, melhorar, acudir. Dos primeiros, ficou muita coisa mal feita, por exemplo: a desindustrialização; dos segundos, temos como exemplo a Saúde. Há muitos mais exemplos do melhor e pior.
Todos os governos têm de ter homens com ideias fortes em política para definirem o rumo a tomar; ao mesmo tempo, e nas áreas mais fragilizadas do país, como a justiça, a educação, a saúde, a demografia, o território, deviam ter homens com ideias claras sobre o funcionamento de cada um destes sectores. Estes últimos, se tiverem as competências e os conhecimentos necessários, e obedecendo a uma política de rumo dos primeiros, teriam como principal missão corrigir e aperfeiçoar sem destruir ou comprometer o que de melhor vem de trás.
Sempre me confundiram as políticas de destruição dos governos anteriores. Este segue o mesmo andamento. Não admira: quem muito quer fazer... seria melhor procrastinar. Muda um governo, desfaz-se o feito, recomeça-se de novo com novas medidas.
Gostaria de ver num casal qual o efeito na educação, saúde, poupança, moral, quando um dos membros saísse para o estrangeiro e regressasse com ideias inovadoras para implementar, substituindo as anteriores. De certeza que a constante alteração das regras do casal iria resultar numa família desestruturada.
Não há nenhuma empresa que seja revolucionária nos seus processos produtivos e criativos. As empresas criam riqueza introduzindo, constantemente, melhorias. De vez em quando geram um novo produto. Nos tempos de crise, e em situações limite, para sobreviverem, mudam, se necessário for, o rumo da produção com novos produtos, aproveitando sempre o conhecimento intrínseco dos trabalhadores e os meios materiais produtivos ao seu dispor. Deste modo saem mais robustas e ricas.
Os nossos partidos, como não sabem aproveitar a riqueza que têm em todos os sectores, que constitui a riqueza do país, e cidadãos, passaram os últimos cinquenta anos a fazer coisas boas, mas ainda não aprenderam a fazer o que dá riqueza. Para a criar, quando fossem eleitos, precisariam de, em primeiro lugar, deixar de dizer mal do governo anterior: para além de ser feio é um sinal de desculpa e fraqueza; aproveitar e desenvolver o que de melhor funciona; corrigir o que está mal; introduzir paulatinamente uma nova medida; cuidar da justiça como se fosse uma criança; instruir e tratar melhor a juventude, ter uma visão de país a vinte e cinco anos de distância. Um país, se quiser ser rico, tem de ter planos de curto, médio e longo prazo. Nunca tivemos um. Neste momento, precisamos urgentemente de um plano de curto prazo: Justiça e Educação. A Justiça trata do que funciona mal, até no plano individual; a Educação é a mina de ouro do nosso país: é preciso criar os meios para o extrair. Os nossos jovens têm sido muito mal tratados pelo conforto e acomodação dos mais velhos: não é muito diferente dos tempos salazaristas e marcelistas.
Será que alguma vez iremos crescer democraticamente ou vamos dar mais pedras aos radicalismos? Também não cresceremos com jovens herdeiros do conformismo sedentário dos pais. As heranças ressoam nos partidos. Há uma mescla de caras velhas e novas, mas as ideias cristalizaram, e até regrediem, algumas. No tempo do Estado Novo a neve passava despercebida na televisão a preto e branco; Agora, a neve é muito mais colorida e alegre... até quando?



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