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Luanda

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 12 de ago.
  • 3 min de leitura


Quando chegavam a Luanda, os jovens militares viam uma cidade militarizada e fortificada. As mulheres negras passeavam com roupas coloridas e as brancas vestiam os últimos modelos leves e airosos da Europa moderna e ousada. No interior das vestes, todas brilhavam com formas apetitosas.



Pôr do Sol - Foto de Sebastien Gabriel na Unsplash
Pôr do Sol - Foto de Sebastien Gabriel na Unsplash


Para os jovens que vinham de Portugal, nos anos 60 e 70, chegar a Luanda era uma experiência tão intensa quanto desconcertante. Não era apenas a chegada a uma cidade diferente; era entrar num universo paralelo, fortificado por muros invisíveis, mas sentidos na pele dos recém-chegados — especialmente pelos jovens soldados, muitos deles, mal acabados de sair de casa, deixavam ali o limiar da infância para entrar num mundo de responsabilidades e perigos.

O cenário urbano que recebia esses jovens estava muito longe do que imaginavam. Luanda, apesar de marcada pela tensão militar, tinha um brilho próprio que dificilmente se encontrava na Europa da época, muito menos em Portugal de Salazar. Era uma cidade fortificada, sim — com guarnições, postos de controlo e uma presença militar constante — mas era também uma cidade de mulheres independentes e que ousavam. Caminhavam pelas ruas com uma liberdade e uma atitude que, para muitos portugueses conservadores, soava quase revolucionária. Enquanto em Portugal se vestiam discretamente, quase como viúvas vivas negras, em Luanda exibiam cores, curvas, e um jeito destemido de ser. Eram mulheres de olhos vivos, risos fáceis, que se moviam entre a rotina da cidade e os riscos da guerra iminente.



Luanda em 1973 - Foto de HJCO
Luanda em 1973 - Foto de HJCO


Esse contraste, entre a rigidez da cidade militarizada e a leveza que as mulheres imprimiam ao quotidiano, marcava profundamente os soldados recém-chegados. Muitos deles, quase todos, não estavam preparados para este choque cultural, esta dualidade entre dureza e beleza, medo e desejo. E era nesta cidade de opostos que começava a desenrolar-se a narrativa de “O Futuro Põe-se ao Pôr do Sol”.

Aqui, não se fala de armas e tiros — fala-se da vida que insiste em acontecer, mesmo quando a sombra da guerra pesa em cada esquina, quando a realidade dela está ao sair da cidade. Os encontros furtivos, as trocas de olhares, a música que escapava dos bares e que fazia pulsar uma esperança que se ia perdendo. É neste cenário que a história se revela, cheia de nuances, onde o romance floresce na luz da escuridão e os sonhos se agarram a cada pôr do sol como se fosse o último.

No meio deste mosaico, os soldados aprendiam rapidamente que a guerra não está só no campo de batalha. A verdadeira luta pode ser contra o desconhecido, a saudade, o medo do que ainda virá. É esta complexidade que o livro procura captar, convidando o leitor a entrar num mundo onde o exterior pode parecer sombrio, mas o interior reserva histórias de coragem, paixão e sobrevivência.

Através das páginas, somos levados a sentir o pulsar da cidade, o impacto da chegada a um território estranho, e o modo como cada personagem se vai adaptando, resistindo, e tentando encontrar um sentido para um futuro incerto. A cidade de Luanda, com suas ruas animadas e seu ambiente carregado, torna-se quase uma personagem por si só — uma força que desafia e transforma.

Sejam bem-vindos a esta viagem — onde o choque do real e a beleza do inesperado caminham lado a lado, e onde o futuro, mesmo posto ao pôr do sol, ainda pode surpreender.



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