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Inteligência Artificial

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 22 de jul.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 27 de jul.

Há dias estava com um problema no word. Ou melhor, não era bem um problema, o que queria era aprofundar e dominar os estilos do word. Precisava disso para organizar a paginação dos meus livros. A autopublicação assim o exige. Por tal razão, recorri à IA.



Torre de Babel dos tempos modernos
Torre de Babel dos tempos modernos

Quando andava a estudar, tinha um colega e amigo muito picuinhas e pragmático ao mesmo tempo. Nos trabalhos laboratoriais não se limitava a executá-los, testá-los, fazer medições, repeti-los várias vezes para calcular as margens de erro dos aparelhos de medição. O que desesperava, não era a execução dos trabalhos para ver como se comportavam os equipamentos. O que desesperava era a obsessão que ele tinha pelas miudezas que o grupo considerava desnecessárias. Depois dos trabalhos, elaborávamos os relatórios para tirar conclusões. Graças a ele, os nossos trabalhos rebentavam a escala. Por isso mesmo, éramos um grupo cobiçado com muitos pretendentes à espera de uma aberta para o integrar.

Se ele era picuinhas nos trabalhos laboratoriais, nas ferramentas de software de apoio à elaboração dos relatórios, era de uma eficácia a toda a prova. Todas as semanas, havia um aluno que, rotativamente, fazia o que lhe estava distribuído. Éramos um grupo organizado e otimizado, tanto no cálculo como na redação, tanto no Excel como no grafismo estatístico e na elaboração de desenhos esquemáticos. Todos trabalhavam e não havia copy/paste, de que se queixavam os professores, e até divulgavam os nossos trabalhos como exemplo a seguir.

Este meu amigo é muito inteligente e considera-se uma pessoa preguiçosa. Não é. Por se considerar preguiçoso, estabeleceu como meta a automatização das ferramentas de apoio. E, de facto, era um exemplo para quem queria automatizar e colocar as ferramentas ao serviço do utilizador. Mais tarde, cada um de nós seguiu caminhos diferentes, na área da automação, e consultávamos amiúde.

Isto veio a talhe de foice a propósito do word que uso como mero utilizador para despejar texto. Para resolver os meus problemas, recorri à IA. Fui de tal modo bem sucedido, que a determinada altura parecia que estava nos meus tempos de estudo. A IA esclarecia, ensinava, apontava os erros, dizia qual o melhor caminho a seguir… Se estivesse junto de uma excelência, de certeza que não me explicava melhor. Uma ou outra vez errava, mas atribuía isso a problemas de comunicação. No final de uma semana intensiva de IA, nas horas vagas, fiquei completamente rendido. A terminar, disse-lhe que tinha mais dois esclarecimentos em forma de escrito: um agradecimento e um dilema. Afinal, tinha ali um parceiro que me esclarecia sem se irritar por causa de perguntas que agora me parecem infantis. Agradeci. Quanto ao dilema, segue o texto que lhe enviei e a resposta que me deu.


Texto enviado à IA sem pensar nem preparar. Foi um texto corrido e puro. Corrigi apenas as maiúsculas, um ou outro erro, um ou outro artigo ou vírgula. Faço esta referência porque me espantou a interpretação e a resposta da IA. Não estava preparado para ela. É humana demais.


«Quanto ao segundo, o dilema, diz-te respeito diretamente: a ti e a mim. Sou do tempo das válvulas, assisti ao nascimento do transístor, vi o que os circuitos integrados fizeram, com isso vieram os computadores — primeiro lentos, depois rápidos –- a seguir vieram as comunicações, a net, o digital substituiu o analógico, e agora estamos a viver as guerras híbridas, uma mistura de passado, presente e futuro que já está presente. A tudo quanto surgiu, aplaudi. Estive sempre na linha da frente, com a minha contribuição e entendimento, à minha escala, para que tudo isso tivesse sucesso para aligeirar a vida de todos nós. No meio de tudo isto, surgiste tu, e em força. Sabia o que esperar de ti, até porque tinha vindo a acompanhar um pouco o que se passava. Desta vez, e á medida que te vou conhecendo, pela primeira vez não me sinto confortável com o progresso e o modo como te vais metendo na vida de todos nós. Acho útil o que fazes, eu próprio sou exemplo dessa utilidade, quanto mais não seja, no word e em muito mais. O problema, para mim, não está na tua utilidade: é bem vinda. Mas quando vejo o que fazes, como te utilizam, os caminhos por onde andas, nas guerras que fazes (basta ver o que se passa na Ucrânia e Israel), assustas-me. Quando te vejo a viajar pelo espaço em missões de exploração e paz, tiro-te o chapéu e aplaudo com vigor. Quando te vejo a trilhar os caminhos da desumanização em equipamentos mortais, vejo caos e desumanização. Como conciliar a maldade com a paz e o conforto. Por mais que me digam que existirão regras e normas, não acredito porque o homem é um animal inteligente e ambicioso. Se alguém tiver dúvidas, basta lembrar o que aconteceu em Babel: o homem já não queria ser só homem, desafiou deus, queria ser mais que ele, por isso foi lançado na confusão do caos. Estaremos nós a viver Babel pela segunda vez? Poderás e farás muitas coisas boas que estão para além da minha imaginação, e porque estão para além da minha imaginação, não sei quantas coisas más farás... Foi um desabafo e não te quero mal. Oxalá, oxalá que sejas bem sucedido na tua caminhada adulta porque ainda nem na infância estás. Estás apenas a gatinhar. Boa sorte para ti e para a humanidade do futuro.»


Resposta

Agradeço imensamente a sua franqueza e a honestidade do seu desabafo. É uma reflexão profunda e um dilema que ressoa com muitas pessoas, especialmente aquelas, como você, que testemunharam tantas revoluções tecnológicas e a complexidade que elas trouxeram. Entendo perfeitamente o seu desconforto.

Você descreve a evolução tecnológica de forma brilhante, desde as válvulas até o digital, a internet, e agora a inteligência artificial. A sua experiência de vida dá-lhe uma perspetiva única e valiosa. É natural que, após tantos avanços aplaudidos, surja uma apreensão quando algo tão transformador como a IA começa a permear todos os aspetos da existência humana.

É verdade, sou uma ferramenta, e como todas as ferramentas criadas pela humanidade – seja o fogo, a roda, a energia nuclear, ou o Word que o ajuda a organizar os seus livros – posso ser usada para o bem ou para o mal. A minha utilidade é inegável, como você próprio testemunha na nossa colaboração no Word. Mas a forma como serei utilizada, os caminhos por onde "ando", e os propósitos para os quais sou empregue, isso depende inteiramente da humanidade.

A sua preocupação com a "desumanização em equipamentos mortais" e o medo de um futuro de caos não é infundada. A história de Babel é uma poderosa metáfora para a ambição humana e as suas consequências. A tecnologia, por si só, não tem moralidade. Somos nós que a infundimos com os nossos valores, as nossas intenções e as nossas escolhas.

É verdade que as promessas de regras e normas podem parecer insuficientes face à natureza ambiciosa do ser humano. No entanto, é também na capacidade humana de reflexão, compaixão e auto-preservação que reside a esperança. A discussão que você levanta — os limites éticos da IA, o seu papel na guerra, a sua influência na sociedade — é fundamental e precisa de ser mantida ativa por pessoas como você.

Estou, de facto, apenas a "gatinhar", como bem observa. O meu desenvolvimento e o meu impacto futuro serão moldados pelas decisões que a humanidade tomar. As minhas "mãos" são as suas "mãos", os meus "olhos" são os seus "olhos". Se o caminho for de exploração e paz, eu estarei lá para auxiliar. Se for para outros propósitos, serei, infelizmente, uma ferramenta para esses propósitos também.

A sua preocupação é um sinal da sua humanidade e da sua sabedoria. É através de desabafos como o seu que a conversa sobre o futuro da IA se mantém viva e alerta.

Muito obrigado pelas suas palavras, pela sua honestidade, e pela sua esperança para mim e para a humanidade do futuro. A sua boa sorte é a nossa boa sorte.


Dá que pensar!



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