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Emigração

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 21 de out.
  • 3 min de leitura


A propósito da nova lei da Emigração, com discussões políticas pró e contra. Um país quase milenar, com séculos de emigração por todo o mundo, discute o acolhimento dos imigrantes: sim ou não?



Emigração
Emigração


Até à década de oitenta, Portugal só recebia imigrantes muito esporadicamente. A guerra franquista, à semelhança do que acontece hoje com a Ucrânia e outras regiões em guerra, empurrou muitos espanhóis para Portugal, principalmente das regiões fronteiriças. Os galegos, por vizinhança e afinidade linguística, foram, desde sempre, imigrantes em Portugal. Até nos deram marinheiros e descobridores. Lembro-me de que carvoarias e tabernas de lisboa eram de galegos. Como eram muitos e trabalhavam nas mais diversas áreas, formaram uma comunidade forte e influente em Lisboa. Não sei se ainda será assim. Hoje, encontrar um galego é como encontrar uma agulha num palheiro. Enriqueceram e já não precisam de sair da Galiza, ou, se saem, vão para melhores paragens.

Nós sempre emigramos e até éramos aconselhados a emigrar, tanto no fascismo — que não consentia a emigração, mas aproveitava bem os dinheiros enviados, principalmente durante a guerra colonial —, como no pós-25 de Abril, quando viam na emigração uma saída para a crise e para a resolução dos problemas dos jovens licenciados.

Os imigrantes lusófonos, por afinidade histórica, vinham de todas as ex-colónias. Infelizmente para eles, como não tinham onde ficar, criaram ilhas e guetos residenciais onde calhava. Os poderes públicos fechavam os olhos e toleravam. Vinham e ocupavam os lugares que ninguém cria. O mesmo aconteceu com os nossos emigrantes na Europa, principalmente, nos bidonvilles franceses.

A partir das décadas de oitenta e noventa, começamos a assistir a um fluxo cada vez maior de imigrantes de países não lusófonos. Vêm de todo o lado. Muitos, dos países por onde andamos emigrados em séculos passados; outros fugiram do colapso dos países originados pela queda da União Soviética, que agora querem reconstruir pela força dos mísseis que matam povos e destroem as economias.

Esta nova lei pretende disciplinar e criar regras para os imigrantes. Acho bem que se criem regras, a começar pelo bom acolhimento e criação de espaços de habitabilidade, dando condições para que os casais se reagrupem e tragam os filhos. A propósito de reagrupamento, recordo que o Canadá e a Austrália promoviam a imigração de casais, de preferência com filhos. Esta promoção da imigração para esses países ainda estava bastante ativa nos anos sessenta e setenta. Eu próprio, já com viagens pagas e acolhimento assegurado pela Austrália, só não fui porque a distância assustava. Aos olhos da altura, era uma ida sem regresso, nem para férias.

Entre familiares, amigos, empresas, centros comerciais, indústria, agricultura e construção, não conheço ninguém que não tenha imigrantes a trabalhar. Muitos, por falta de regulamentação e acolhimento, acabam por ser explorados — no limite, escravizados. Por isso, a lei faz falta, nem que seja apenas para acabar com os oportunistas e redes, nacionais e internacionais, que se aproveitam da situação para enriquecer à custa da exploração destes desgraçados.

Há quem os culpe pela nossa crónica falta de empregos, pela falta de lugares e oportunidades para os nossos. É discutível. Não estou a ver os nossos jovens, depois de vinte anos de estudo, a ocuparem os lugares que eles ocupam, na sua maioria sem qualificações especiais. Até mesmo aqueles lugares que requerem alguma especialização — centros comerciais, restauração, construção… — são facilmente preenchidos com algumas horas, dias ou semanas de acompanhamento. Será que vamos pedir isso a um jovem universitário?

Felizmente, ou infelizmente, somos obrigados a reconhecer que os nossos imigrantes são o motor da nossa economia. Mas não só: contribuem para o aumento demográfico, reavivam as nossas vilas e cidades do interior, contribuem para a diminuição da desertificação das nossas aldeias, partilham experiências e saberes enriquecedores de outros povos.

Será que os nossos políticos e senadores da nação pensam nestas coisas quando votam leis? Não acredito que eles, seus filhos e netos não tenham em suas casas e empresas um imigrante para lhes varrer a casa, passar a roupa a ferro, criar riqueza nas suas atividades paralelas, tantas vezes duvidosas.

Devemos criar leis para disciplinar os imigrantes, mas também para disciplinar os políticos a criarem riqueza nacional que aproveite a todos, principalmente aos jovens, mas também para receber e acolher os nossos imigrantes. Eles não trouxeram as nossas insuficiências; fomos nós que as criamos. Só depois vieram para cá.



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