Depois destas eleições, teremos futuro?
- Luis Manuel Silva

- 11 de mar. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 11 de set.

Que futuro?
Finda a campanha eleitoral fomos a votos e o resultado foi o que se viu.
Saibam os partidos fazerem o seu acto de contrição para corrigir, não a tempestade que aí a vem, mas o futuro de todos nós. Se o governo, ou governos, chegar ao fim dos quatro anos que tem pela frente, vão ser quatro anos violentos, de altos e baixos, com muitas arruadas pela frente e um continuado aumento da dívida, na vã tentativa de acalmar as hostes. Mas também terá a oportunidade soberana para corrigir o que correu mal nesta campanha desastrosa.
Justiça.
Estávamos fartos de um governo com muitos casos e casinhos, como foram chamados. Estes dois anos de governo tiveram defeitos e virtudes. O maior dos defeitos, a Justiça; a maior das virtudes, a Comunicação Social. Na Justiça, tanto quanto se sabe, houve ministros que foram escutados durante quatro anos, possivelmente mais. Depois de terem sido indiciados por crimes de abuso e favorecimento, nenhum foi a tribunal. Alguns continuam a serem investigados, outros já foram ilibados. Na continuação destes processos de escuta e investigação, tombaram dois governos. E já não falo do desprezo pelos presos preventivos da Madeira — criminosos ou inocentes, não mereciam tal sorte. Se recuar no tempo, os casos Sócrates e Ricardo, entre outros, continuam a marinar depois de tantos anos. Será que a justiça faz ideia que no tempo da justiça se faz um filho, nasce e cresce, educa-se até à adolescência, deu-se-lhe a conhecer os poetas galaico-portugueses, namorou e foi desvirginado, ou desvirginou, eventualmente, casou e teve filhos? Pergunto: a justiça existe para fazer justiça ou para ir fazendo navegação à vista, de acordo com os acidentes de costa? Tantos anos de escuta, tantos recursos humanos, tanto dinheiro gasto — à boa maneira da justiça dos caceteiros da pide — e nada, rigorosamente nada! resulta em factos concretos? Ai, resulta, resulta. Resulta na comunicação atempada à comunicação social para estar presente antes que cheguem os aparatos policiais. Pelos vistos, a justiça não é cega: em vez de mostrar resultados práticos, promove a visibilidade da ineficácia para ficar bem vista com a opinião pública, quem sabe, a promoção das carreiras.
Desde que nasci e cresci, estudei e trabalhei, não passou um único dia sem ser avaliado por palavras e provas prestadas. Nem um! E se fui compensado — felizmente, muitas — pelas provas dadas, também fui penalizado quando tinha de o ser. Aliás, o meio mais eficaz para progredir é a avaliação contínua, com os seus consequentes métodos de prémio e castigo. Será que a justiça anda há tanto tempo a trabalhar em roda livre, à boa maneira corporativa salazarista, e ninguém faz nada por ser intocável? Salazar também tinha uma justiça independente e intocável. Intocável e responsável. Sim, responsável: mandava os criminosos para o Tarrafal, Peniche e outras estâncias balneares. Mudaram-se os tempos...
Quanto à comunicação social. Digo apenas que é importante que seja livre, desperte consciências, esclareça as verdades; e já agora, que não seja cusca e publicamente justiceira. Só tenho pena de que não fosse tão ativa em anos mais recuados.
Um país falhado.
Voltemos às eleições. A primeira vez que me apercebi de que éramos um país falhado, promovido por partidos ainda mais falhados, foi quando Mário Soares concorreu às eleições presidenciais com provecta idade. Nesse dia tive um desgosto e pensei: um país com partidos que não tem ninguém para concorrer às eleições, senão um idoso, é prova mais do que suficiente de um partido falhado, e por arrasto, o próprio país. Curiosamente, é o mesmo que se está a passar com a América dos nossos dias — isso é outras guerras que não nos dizem respeito, mas dizem, ainda que indiretamente. Quem procura velhos para liderar os mais novos perdeu o respeito pela juventude e condena-a ao fracasso.
Campanha Eleitoral.
Toda a campanha eleitoral decorreu sob o signo das novas lideranças.
Pensava eu que estávamos a caminho de enterrar, de vez, as velhas gerações ligadas a Abril. Todas foram importantíssimas para construir Abril, a democracia que não tínhamos, com os desmandos e aproveitamentos de quem nada sabia, é certo, mas, felizmente, com muitas virtudes. Precisamos das virtudes como do pão para a boca. Construídas as liberdades da democracia, eliminado os analfabetismos, reformuladas as aprendizagens com jovens a saírem das universidades com saberes invejáveis que a europa, e não só, cobiça — menos nós —, era tempo de passar, e entregar nas mãos das novas gerações, a segunda fase de Abril: construir um país de que todos se orgulhassem.
Continuar o 25 de Abril.
Pondo de parte a corrupção, que nunca iremos eliminar, mas podemos controlar, o que precisamos de fazer, urgentemente, é o 25 de Abril do desenvolvimento, da autonomia das novas gerações, da justiça célere, sem advocacias e justiças de empatas, sem Velhos do Restelo com ideias anquilosadas e retrógradas, cristalizados com falsas ideias orgulhosas de obras feitas. Precisamos é do bom senso dos velhos, como eu, do exemplo daqueles que fizeram, realmente, algo de bem feito. Para aqueles que conhecem um pouco de história, um João II é um exemplo de homem de todos os tempos; um Sebastião é o exemplo do homem falhado, modelo do que temos de evitar a todo o custo.
A nossa democracia recente tem muitos e bons exemplos de homens a imitar, em todos os quadrantes políticos, sem excepção. Homens fortes, verticais, com convicções, que se empenharam na construção de um modelo da sociedade que acreditavam, que deram tudo o que tinham para dar, que serviram sem se servirem, que fizeram o país que somos. Alguns fizeram o seu disparate, mas tinham um fio condutor: democracia, liberdade, justiça, alfabetização, saúde. E como estávamos carentes de tudo isso? Muitos outros serviram-se de nós e dos lugares de uma forma corrosiva.
Mário Soares, homem quente e frio, calculista e negociador nato, acima de tudo democrata e culto, perdeu a oportunidade de fechar com chave de ouro todo o seu rico manancial de uma vida plena, cometeu o pecado capital, que não apaga o que fez, de querer viver um tempo que já não era o dele: cristalizou-se nos seus ideais e perdeu-nos.
Novas Lideranças.
As novas lideranças perderam uma oportunidade soberana para discutir na campanha o rumo que queriam dar ao país. Pior ainda, o partido, aparentemente ganhador, cometeu o mesmo erro do PS: trouxe para a campanha velhas ideias, algumas completamente ofensivas; trouxe cataventos orgulhosos do trabalho feito. Jô Soares, com toda a sabedoria da voz quente e doce do outro lado do mar, conhecia bem os falares da cultura do povo que somos, foi ele, com uma pronúncia mal articulada do português de Portugal que nos abriu os olhos e disse: olha lá, mas tu não te enxergas?
Dos Matusaléns da AD, tiro o chapéu a Rui Rio: considero-o pessoa íntegra e honesta. Para mim, foi o único político que sempre se manifestou a favor da avaliação do trabalho da justiça. Ninguém o ouviu. Foi o homem que pôs em sentido o Pinto da Costa: se alguém ainda se lembra, queria que a autarquia ficasse subordinada ao futebol. Foi ele que recuperou as finanças do Porto. Rui Rio foi boicotado, sistematicamente, pelo próprio partido, até pela atual liderança, mesmo assim, por ser homem de convicções, pôs de parte o rancor e foi fazer um pezinho de dança na campanha.
Para bem dos jovens do meu país, depois destas eleições, teremos futuro se a AD, quando formar governo, tiver a clarividência do Homem Alto que é Rui Rio. Façam o que fizerem, espero que não nos percam. Uma família com crédito habitação diria: é tão difícil pagar uma dívida! Mas depois de paga, pode dar-se a alguns luxos.
Marcelo deve estar orgulhoso do trabalho feito.
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